Regresso às aulas
Por Alice Vieira
Se os miúdos de agora soubessem que, há muito tempo (na pré-história…) o regresso às aulas era só na 2ª semana de Outubro, faziam uma greve e manifestações em todo o país a exigirem imediatamente o regresso ao passado.
É verdade! Três meses de férias! Lembro- -me de passar um mês na Praia do Guincho, outro mês em Caldelas (campo) e o outro nas vindimas.
Dava para estarmos cheios de saudades da nossa escola, dos nossos colegas, das empregadas, e até (só às vezes…) das professoras.
Agora, mal tiveram tempo de esvaziarem as mochilas… e já estão a enchê-las outra vez. Digamos que agora as férias são assim uma espécie de fim de semana prolongado.
Claro que, para os pais, as férias de agora devem ser uma bênção! Noutros tempos, três meses com a miudagem em casa — e eles a terem de ir trabalhar, e a pensarem onde é que os vão deixar… Realmente é bem verdade que não se pode agradar a gregos e a troianos.
Mas, no meu tempo, o regresso às aulas era uma alegria! Havia uma sessão solene, uma professora fazia o discurso da praxe (havia uma professora de Moral que acabava sempre “e quero que saibam que seja onde for estarei sempre pronta a servi-las”)
E quase todas recebíamos prémios e diplomas. Bastava nunca termos faltado—e recebíamos o “Diploma de Assiduidade”
Se ficávamos no “Quadro de Honra” (quando tínhamos tido numa ou várias disciplinas médias superiores a 14 valores) recebíamos livros, um por cada disciplina com essa média. E eram livros muito bons, nada chatos, nada para “nos ensinarem coisas”. E éramos muito aplaudidas e beijocadas.
Palavra que ainda hoje, quando me lembro desse regresso às aulas, ainda sinto saudades desses tempos.
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira